Música e Espaço no Cinema

Entre o visível e o invisível, a Musica e o Espaço são elementos complementares da narrativa no Cinema, contribuindo para a melhor transmissão da mensagem. Por vezes aparecem de forma tão subtil que nem dá-mos pela sua presença, ouvindo de forma inconsciente a sua ressonância.

Musica e Arquitectura ajudam a uma identificação com a cena emocional. Embora essa percepção ocorra imediata e passivamente, o cérebro representa, agrupa e relaciona os sons e imagens com padrões similares, extraindo deles significados emocionais. A Música, domínios verbais e visuais, activam funções distintas do cérebro, complementando-se. 

Os espectadores querem ver e ouvir eventos lógicos e consistentes, formas e sons simples que mais facilmente identificamos, que desde pequenos nos foram introduzidos. Captando assim a nossa atenção, que de outra forma seria dissipada por ruídos estranhos.  

Espaço visual e música têm a capacidade de alterar o estado de espírito ou os sentimentos do espectador, talvez por isso nos atraiam tanto. É importante aqui fazer uma distinção entre o que é indução de estado de espírito e comunicação de significado. O primeiro modifica o que alguém está a sentir, enquanto o segundo simplesmente conduz uma informação. 

Na época do cinema mudo, a música era até catalogada de acordo com o significado emocional produzido por cada uma. Andamentos lentos, contornos melódicos descendentes, graves e sonoridades menores transmitem tristeza. A alegria é comunicada por andamentos rápidos, agudos e sonoridades maiores. A música pode reforçar o carácter expressivo do filme ou entrar em contraponto, criando uma certa ambiguidade ou ironia na cena.

Por vezes somos levados a associar um espaço ou música a um personagem individual ou colectiva, de maneira que na ausência do personagem, a visualização desse espaço ou musica nos fará imaginar esse personagem. 

Através de pormenores arquitectónicos e sonoros, temos a percepção do contexto temporal, cultural e social em que a cena se insere.

Não vemos o mesmo quando ouvimos, nem ouvimos o mesmo quando vemos. Na relação entre som e imagem, a nossa percepção é muito influenciada pelo valor que o som agrega á imagem, alterando a percepção do tempo. Imaginemos imagens fixas, desprovidas de toda a temporalidade, podem-se inscrever no tempo real através de sons de goteamento de água e ruídos de passos. Alterando assim a percepção do tempo da imagem, que se pode fazer mais ou menos fina, detalhada, imediata, concreta ou pelo contrário, vaga, flutuante e ampla.

Podemos ver a música e o espaço como uma máquina do tempo, que nos transporta e conecta com outro lugar e a outro tempo, no futuro e no passado.

João Pedro Barbosa

*Dreams by Akira Kurosawa 
*Metropolis by Fritz Lang
*Mon Oncle by Jacques Tati