Da Essência

Actualmente designamos como a essência de algo, como um processo de generalizações de algo particular. Retirando tudo o que é considerado irrelevante, que possa confundir a sua leitura, até encontrar o seu aspecto mais puro. O que fazemos é retirar os aspectos que caracterizam algo, a sua individualidade, para a tornar algo pertencente a uma classe de objectos, iguais e sem alma.

Kahn pelo contrário interessa-se mais pelo particular, pelas qualidades singulares de cada coisa, na busca da razão de ser de cada objecto, da sua alma. É nesta busca pelo elemento vital que procura a essência.

O conceito de essência é fundamental na vida. Não só quando é aplicada á arquitectura, mas também quando é usada relativamente ao Homem. Kahn acredita que cada ser humano tem determinadas características que o levam a querer ser uma coisa e que cada um deve procurar essa vontade de ser, essa essência. Que é a estrutura base de tudo o que é.

Kahn transpõe essa procura para o seu conceito de arquitectura, nos seus instrumentos e nos seus elementos. Estas noções misturam-se e, simultaneamente, podem completar-se.

Esta procura pela essência implica uma redescoberta do mundo, não partir de conceitos pré-definidos, mas recuar no tempo e perceber a verdadeira origem das coisas. Isso implica uma noção de história. Só através dela poderemos chegar ao nascimento de cada coisa, e aí encontraremos a sua ordem e a sua razão de ser.
Sketch by Louis I. Kahn
                                                                                                        
É importante compreendermos que determinada coisa teve o seu princípio e a sua razão de existir, que em determinado momento, por determinada razão, em determinadas circunstâncias, houve a necessidade de surgir. Á medida que o tempo vai passando, as coisas vão perdendo o seu sentido, a sua razão de existir, a sua origem, a sua essência. Utilizamos conceitos, já alterados no seu significado pelo tempo, sem nos perguntarmos o porquê das coisas. É fundamental procurar sempre na nossa mente, como cada coisa nasceu. Só assim poderemos intervir na sociedade de forma consciente e em harmonia com a natureza. 

“…é bom que a mente retorne ao inicio: porque, para qualquer actividade humana constituída, o inicio é o momento mais maravilhoso. Pois é nele que está todo o seu espírito, todas as suas potencialidades, que constantemente devemos retirar inspiração para as necessidades actuais.” Louis I. Kahn 

Não podemos confundir a importância dada ao passado, com nostalgia. Tudo o que é feito faz parte de um processo que se desenvolveu ao longo de milhares de anos. Kahn encara o progresso de uma forma positiva. Entende no entanto que a essência de cada coisa é imprescindível, saber respeitá-la e usá-la.

Mais do que o projecto, o importante é a capacidade de compreender o que é uma coisa. Como poderemos nós projectar uma escola, sem saber o que é uma escola, qual a sua função, o que representa para o ser humano, qual a sua função, como surgiu e porque surgiu. 

“A escola começou com um homem debaixo de uma árvore, um homem que não sabia que era professor, e que se pôs a dissertar sobre o que tinha compreendido com outras pessoas, que não sabiam que eram estudantes. Os estudantes puseram-se a reflectir sobre o que se tinha passado entre eles e sobre o efeito benéfico daquele homem. Desejaram que os seus filhos também o ouvissem e, assim, se ergueram espaços, e surgiu a primeira escola. A fundação da escola era inevitável porque forma parte dos desejos do homem. Todos os nossos complexos sistemas de educação (…) derivam daquela pequena escola, mas hoje esqueceu-se o espírito com que começou.” Louis I. Kahn  

Este texto reflecte, o que Kahn entende, quando fala da procura da essência de uma obra arquitectónica, explicando como surgiu a escola. Defendendo que um projecto de uma escola, deve ser resolvido como escola e não como uma escola. Em primeiro lugar temos de reflectir, sobre o que faz a escola ser diferente, de um museu, de uma habitação, ou de qualquer outra coisa. 

                                                                                                  João Pedro Barbosa